Tomaz Morais n' A Bola

Tento aqui recuperar alguns dos artigos que o seleccionador nacional tem escrito para o jornal "a bola" todas as 3ªs, dia da semana em que a bola dedica cerca de uma página e meia ao rugby, todas as semanas. Aqui ficam alguns dos mais recentes artigos:



Um bom modelo de iniciação à modalidade


A acompanhar o sucesso e mediatização dos Lobos, nasceu um grande projecto de introdução do rugby nas escolas: o Nestum, Rugby nas Escolas. O protocolo entre a Federação Portuguesa de Rugby e o Gabinete Coordenador do Desporto Escolar permitiu a iniciação de mais de 20 000 jovens à prática do rugby, no âmbito do Desporto Escolar. A Coordenação ficou a cargo da Associação de Rugby do Sul, tendo como parceiras a Associação de Rugby do Norte e o Comité Regional de Rugby do Centro. Na 1ª Fase cerca de 1200 professores, de 194 escolas, receberam formação de Tag Rugby, numa 2ª Fase realizaram-se Torneios intra-turmas e inter-turmas nas escolas e numa 3ª fase organizaram-se 20 torneios Regionais inter-escolas, que contaram com a participação de 5.624 alunos e 380 professores, em 760 equipas. Este projecto permitiu promover a modalidade no meio escolar e contribuir para o desenvolvimento do rugby, do desporto e do bem-estar. O tag rugby é um jogo sem contacto físico em que os jogadores utilizam um cinto com duas fitas que substitui a placagem. Embora sem contacto físico todos os princípios e técnicas do jogo de rugby estão presentes: avançar com a bola, fintar, apoiar, passar/receber e fazer oposição individual e colectiva. Este jogo é de fácil compreensão e desenvolve numa fase inicial a técnicas de evasão, é fácil de arbitrar e as equipas são constituídas por rapazes e raparigas. No passado dia 30 de Maio, teve lugar a Festa Final do Projecto Nestum Rugby nas Escolas, no Estádio Nacional, que decorreu em 4 campos do Jamor e foi o culminar do enorme sucesso das 3 fases pelas quais passou todo este projecto. O entusiasmo dos professores e alunos no final era grande, acreditaram numa modalidade diferente, para muitos uma nova matéria de ensino, e pode-se considerar que foi uma aposta ganha! Uma próxima fase, urge a necessidade do envolvimento dos clubes neste projecto de forma a promover a captação destes jovens alunos para a prática federada da modalidade.
Jornal A BOLA 2/06/09


E Agora?


Chegou o final da época de XV e como tal período ideal para o treino físico especializado para o incremento de massa muscular. Este período, transitório para a nova época, reveste-se de particular importância pois é nestes 3 meses que se pode fazer um trabalho altamente específico e individualizado para que o jogadores aumentem as suas massas musculares adaptando-as às exigências do contacto físico. Treinar em ginásios adequados, com material específico, espaçosos e arejados é o primeiro pré- requisito para se poder trabalhar de uma forma apropriada. Optar pelo método hipertrófico com acompanhamento técnico é a única forma aceitável de fazer um trabalho congruente e optimizador daquilo que se pretende. O objectivo não pode ser crescer de uma forma desmesurada mas sim aumentar o peso através da massa muscular sem que se perca dinâmica e velocidade. Para isso, são precisos 4 a 5 treinos de força por semana, separando os grupos musculares com os objectivos planeados. Conciliar este método com trabalho aeróbio (que pode ser corrida, bicicleta, boxe, natação ou a prática de outros desportos colectivos), sessões de alongamento, flexibilidade e treino funcional visando as técnicas específicas e gerais do rugby. No doseamento e na escolha dos exercícios está o maior dos segredos do sucesso que este tipo de trabalho pode ter no desenvolvimento de um jogador. Para maximizar o rendimento deste tipo de treino há que recorrer a uma dieta alimentar adequada ao esforço dispendido, para isso os jogadores devem procurar o acompanhamento de técnicos habilitados. Não há treino que faça efeito sem que para isso existam os necessários períodos de repouso e recuperação. Muitas vezes tudo é perdido quando estas regras mais simples não são respeitadas. Treinar bem nem sempre é treinar muito!Neste Final de época, o balanço dos números do crescimento do rugby juvenil deixam-nos bastante satisfeitos e esperançosos de uma evolução sustentada da modalidade. Em 2004 estavam inscritos na FPR até aos 14 anos, cerca de 500 jogadores, hoje esse número é de quase 2000. Não foi só o número de jogadores federados que cresceu foi também o número de crianças que iniciaram a prática regular do jogo em escolinhas, elas surgiram no âmbito do projecto de integração do rugby em bairros críticos (Peniche, Caxias, Bairro da Boavista em Lisboa, Setúbal, Cerco do Porto). Agora, é necessário garantir a fidelização de acordo com as suas necessidades, captação de ‘Jovens Árbitros’ e ainda ‘investir’ na formação de educadores e treinadores. A responsabilidade de um novo impulso cairá nos ombros dos Lobos, o apuramento para o Mundial de 2011 criará sem dúvida uma onda ainda maior.

Jornal A BOLA 9/06/09



Jogos Particulares - sempre a doer!


Junho um mês pleno de jogos internacionais, além dos habituais jogos particulares, realizam-se os torneios IRB (Churchill Cup, Pacific Cup e Nations Cup) criados para os países emergentes jogarem com as selecções A das grandes potências mundiais. Portugal, ao ser obrigado a prescindir da organização da Nations Cup por falta de apoios financeiros, ficou fora das escolhas para tão importantes competições. Mais do que nunca precisávamos destes jogos para proporcionar à Selecção embates de outra dimensão, de forma a ganharmos ritmo competitivo, entrosamento colectivo e confiança para a 2.ª volta de apuramento para o Mundial. Resta-nos treinar muito e bem para suprimir ao máximo estas contrariedades, mas nem sempre o treino e a vontade chegam! A Nova Zelândia ficou rendida à sublime exibição francesa, que se saldou numa nova vitória, a relembrar a obtida no Mundial de 2007. Assentes num 5 da frente extremamente eficaz que teve a ousadia de colocar em pressão a terrível formação ordenada neozelandesa, beneficiando do retroceder da IRB na aplicação das novas regras em relação à defesa do maul dinâmico, a França apresentou um jogo mais lento e à volta do pack avançado. Esta forma de encarar o jogo surpreendeu e adormeceu a postura táctica All Black. Aplicaram uma atitude defensiva permanente, baseada numa organização de pressão e risco, com 152 placagens baixas em todas as zonas do campo (não habitual na escola francesa) ainda longe das 299 do jogo dos 1/4 de final do mundial 2007. Após esta sensacional vitória os franceses, logo pela manhã, cumpriram um plano de recuperação física que passou por corrida lenta, alongamento, trabalho abdominal e lombar antes de entrarem na piscina para mais técnica de corrida e flexibilidade. Curioso o facto de ao final do dia voltarem a fazer uma sessão de crio terapia para diminuir o risco de micro traumatismos a nível muscular. Como prémio, tiveram piza e bolo de chocolate depois da reunião de análise de jogo feita pelo capitão. Resta agora saber como vão reagir ao orgulho ferido dos neozelandeses no próximo sábado.
Jornal A BOLA 16/06/09


A Arte de Placar


O Râguebi é um desporto colectivo que permite o contacto físico, em que os jogadores podem jogar livremente com as mãos e com os pés, dentro dos princípios e da lógica do jogo. esta realidade estimula a existência de um sem número de técnicas individuais, gerais e específicas a ensinar e a aperfeiçoar sistematicamente. Destacam-se quatro consideradas de base: correr verticalmente com a bola; placar; pontapear; passar e receber a bola em velocidade e pressão. De todas elas a mais marcante, e que surge como uma arte característica do jogo, é a placagem. Com um processo ensino/aprendizagem pedagógica e com um domínio afectivo muito susceptível, resulta na técnica que envolve mais cuidados, mas uma vez bem integrada e assimilada no comportamento do jogador permite a prática do jogo em segurança a todos os níveis. Placar de acordo com as regras é defender o portador da bola, levando-o prontamente ao solo para que se possa iniciar a recuperação da bola. Sem dúvida, é bem executada, quando suficientemente agressiva e directa, sem nunca se interpretar agressividade como uma acção violenta. O Râguebi, o mais concretamente a placagem, nunca poderão atingir níveis violentos já que não é essa a filosofia nem o carácter do jogo. Quando observamos uma placagem bem executada, presenciamos o domínio da técnica (derrubar sem magoar anulando a acção ofensiva), a surpresa e a velocidade de execução. Jogar com qualidade a modalidade mãe, o XV, a variante de Sevens e aquela que se aproxima nos areais da costa portuguesa - o Beach Rugby, é dominar esta prática que pode ser aplicada eficazmente qualquer que seja a morfologia do jogador opositor. Encanta ver râguebi quando se avistam grandes e leais placagens, assim nos ensinaram os Lobos, pôr a alma em campo em cada acção defensiva! historicamente habituados a defrontar e a combater gigantes nunca se intimidaram, com uma apetência especial por esta técnica, ganharam o respeito de qualquer adversário. Placar e ver placar com honra é viver e respeitar o espírito de jogo!
Jornal A BOLA 23/07/09

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